Silêncio

Chegamos a um ponto. Ao ponto de ficarmos confortáveis em silêncio um com o outro. Não é bom? Saber que já não precisamos dos constantes temas de conversa para o ambiente não ficar estranho, saber que estamos confortáveis sem falar. Em que conseguimos que a conversa flua naturalmente para um fim e passamos a falar por toques na pele. Também nos sentimos bem a quebrar essa calma e a dizer algo. E por vezes nem têm resposta, mas não faz mal. As melhores coisas não são ditas, são sentidas. E enquanto sentirmos não precisamos de falar. Minto: as melhores coisas fazem-se em silêncio ou aos gritos, percebes? E por enquanto não vamos gritar. Mas só por enquanto. Por enquanto saboreamos o doce (ou amargo?) mistério do que cada um ouve no silêncio. Depois, mais logo, em quatro paredes, em todos os tectos e chãos ouvir-se-ão os gritos. Não serão de dor. Serão da mesma matéria com que alimentamos os silêncios: o prazer de estar confortável com isso.