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terça-feira, 17 de março de 2015

Dormir

Vem, vamos dormitar aqui neste banco. Anda, chega um pouquinho para lá só para eu caber. Abre os braços e dá-me o teu peito ou então deixa-me que eu te abrace e me encoste no teu ombro, cabeça com cabeça, peito com costas, coração com coração. Quatro camadas de roupa separam a nossa pele no tronco: a minha camisola e o casaco, o teu casaco e a tua camisola e eu não consigo deixar de pensar o quão próximos estamos. Deixa-me sentir a tua respiração - respiras rápido, moço - acalma-me. Sinto-te quente, mesmo através da roupa. Vou reclamar quando te mexeres, talvez fale e trema durante o sono. Um pesadelo pode vir a acontecer. E tu vais estar lá pronto a acordar-me - chateado, porque te estava a saber bem dormir - e eu vou estar feliz, sabes porquê? Porque o que me vai trazer alívio vai ser sair daquele maldito sonho em que não consigo correr nem gritar e depois foco os olhos e vejo a tua cara, primeiro algo fosco e depois, a perfeição imperfeita: a marca de nascença no nariz que quase não se vê mas eu sei que existe, os olhos irregulares entre o verde e o castanho e depois a tua boca, perfeitamente desenhada que se aproxima cada vez mais e me beija a testa. Sentirei depois o coração em chamas e a aflição (ou o alívio?) de finalmente ter acabado a espera por esse maldito beijo. Vou querer, para sempre dormir contigo, não da forma sexual, dormir mesmo. Só para poder acordar contigo.

- Moça, vamos dormitar aqui ?
Risos
- Sim.

Depois percebi que nunca dormiste. Percebi que me podias ter feito mal enquanto dormia. Percebi que, depois me acordares, eu tive a sensação de plena confiança em ti, como se te conhecesse desde antes do princípio dos tempos. Vem, vamos dormitar juntos aqui neste banco, nesta cama, nesta vida. 

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