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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Quando o frio não vem a Trás os Montes

O frio faz-me sentir bem porque fui criada nele por ele. Fui habituada a Invernos com neve e Verões do Inferno, daqueles que abafam a alma.
Gosto do frio quando me bate na cara, dos sóis de Inverno que tão trazem calor, das geadas nas folhas caídas e de quando se vê a escuridão do céu quando limpa. Gosto do luar de Janeiro que se compara ao primeiro amor, quando a escuridão é maior e o amor mais quente.
Gosto quando o gelo se forma e fica nas folhas até reluzir aos primeiros raios da manhã. Gosto quando se acumula nas zonas de sombra e parece açúcar em pó na berma da estrada.

Mas este ano, até agora, não houve frio. Não houve luares nem amores nem gelo. Não houve 9 meses de Inverno nem 3 de Inferno. Nevou lá no cume do Marão mas foi embora na chuva seguinte. Este inverno, ande por onde andar não veio cá parar no Natal. Nem no Ano Novo. Há-de chegar a Senhora das Candeias e ele sem vir.
O frio - cortante como gostamos dele - faz-nos falta como o pão na mesa. Aqui não sabemos viver em ele. Precisamos dele para saber quando matar um porco e fazer fumeiro. Precisamos dele para queimar as ervas e para dizer às videiras que ainda não está na hora.
Mas ainda não veio, por isso mata-se o porco para a semana e as videiras rebentam. Sai-se à rua com uma camisola e os cachecois nem se usam. Basta-nos um impermeável, porque o nosso mal é a chuva.
E enquanto o frio não vem, as gentes fazem profecias do fim.
E quando acabar por não vir, as gentes vão recordar os tempos em que o frio vinha e gelava os ossos.


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